terça-feira, abril 17, 2007

RICUCCI VS. S. BUCHANAN

Caro Prof. Ruy,

Há pouco tempo li uma discussão cientifica publicada no IEJ (2001) entre o Prof. Ricucci (University of Connecticut Health Center) e o Prof. S. Buchanan. Pelo que li acho que vem a ser pertinente sobre a questão do limite apical e da grande preocupação com os 2 mm finais. Fiz uma tradução livre da carta de ambos e coloquei os originais no anexo do email. Espero que possa interessar pq, para mim a resposta do Prof. Buchanan é simplesmente brilhante e muito ATUAL.

Grande abraço,

Gustavo de Deus

Carta do Prof. Ricucci ao Editor do IEJ (Paul Dummer) a respeito de uma série de artigos publicados pelo Prof. Buchanan no IEJ (The standartized-taper preparation).

"....O método recomendado nesses artigos – envolvendo instrumentação e a colocação de materiais endodônticos além dos limites do forame apical – é um método que não é recomendado pela maioria das escolas americanas (Cailleteau & Mullaney 1997). Na verdade, todos os estudos validos sobre a taxa de sucesso na endodontia – sem exceção – demonstram que o extravasamento dos materiais endodônticos além do limite do forame apical reduz consideravelmente a taxa de sucesso do tratamento (Strindberg 1956, Molven 1976, Kerekes & Tronstad 1979, Bergenholtz et al. 1979a, 1979b, Kerekes et al. 1980, Swartz et al. 1983, Sjögren et al. 1990, Smith et al. 1993, Friedman et al. 1995, Seltzer 1999). Além disso, uma busca na literatura através dos anos mostra que não existe um estudo sequer que sustente a superioridade de resultados favoráveis quando canais laterais e ramificações apicais não-limpas são obturadas. Na verdade, observações histológicas mostram que a o entulhamento de material obturador dentro dessas ramificações causa destruição de tecido, inflamação e reação a corpos estranhos. Proservações a longo prazo envolvendo observações histológicas tem demonstrado que embora o material extravasado pareça desaparecer radiograficamente, ele permanece por anos mantendo uma reposta tecidual adversa (Ricucci & Langeland 1998).

Os leitores (do IEJ) devem estar conscientes desses fatos e que o International Endodontic Journal não recomendada os métodos descritos nesses artigos. É importante manter na mente o conhecimento da patologia geral que tem deixado claro por vários anos o efeito patológico da inserção de medicamentos e materiais nos tecidos conjuntivos (Robbins et al. 1999).

Reposta do Prof. Buchanan ao Editor do IEJ

Caro Editor,

Eu gostei de ter recebido a revisão da literatura que o Dr. Ricucci citou em sua carta, porem como sempre, eu enxergo algo diferente do ele reporta. O que eu li nesses estudos são evidências que a instrumentação formando um batente apical não possui uma previsibilidade tão adequada quanto parece. Nesses trabalhos é mostrado um baixo índice de sucesso nos casos de sobreobturação. No entanto, a sobreobturação não representa um erro da fase da obturação e sim um erro de preparo do canal, porque as técnicas ensinadas e recomendadas tentam criar algum batente apical.

Quando um batente apical é criado, ele deve (por definição) ser criado dentro da estrutura da raiz ou não existirá a forma de resistência necessária para manter o material dentro dos limites da raiz. Com essa técnica, uma sobreobturação é frequentemente resultado de um erro de condutometria e o resultado mais comum é o transporte do termino do canal radicular – o que plenamente justifica o insucesso! Em resumo, eu acredito nesses resultados; eu somente não acredito nas razões descritas como as causas desses insucessos.

Eu também fiquei entretido com a declaração do Dr. Ricucci que "nenhum trabalho" mostrou casos sobreobturados com sucesso. Sjogren et al. (1997) relataram que quando os procedimentos são executados por profissionais experientes – o que resulta em uma Limpeza & Modelagem acima da média – a taxa de sucesso em dentes sobreobturados é de 100%, independente do resultado da cultura bacteriológica. Eles também mostraram que o sucesso em dentes com obturações mais curtas dependia do resultado da cultura microbiológica. No entanto, na minha opinião, obturar todo o espaço do canal radicular garante um taxa de sucesso maior que a média, e o extravasamento de material além do forame apical é somente coincidente com a real causa desses insucessos – que decorre de um pobre processo de Limpeza & Modelagem.

Finalmente, a preocupação de Ricucci & Langeland (1998) sobre o uso de limas de patencia é irônico em vista da toxicidade do Ca(OH)2, um material que eles recomendam como rotina para todo o tratamento endodôntico. Na verdade, nunca houve um estudo mostrando qualquer diminuição na taxa de sucesso devido ao uso de pequenas limas passando pelo forame apical para garantir sua limpeza. Por outro lado, a experiência clínica indica de forma preponderante que a freqüência da ocorrência de entupimento e transporte apical é radicalmente diminuída pela limpeza do forame apical através do uso de limas de patencia. Preocupação com o uso de limas de patencia, na minha opinião, é perder a floresta para as árvores.