ENDODONTIA EM SESSÃO ÚNICA.
A controvérsia sobre endodontia em sessão única em dentes com patologia periapical está concentrada na medicação intracanal. Estudos têm demonstrado que não há diferenças significantes entre tratamentos realizados em sessão única e em sessões múltiplas (duas ou mais sessões) com medicação intracanal com hidróxido de cálcio , nem quanto à dor pós- operatória nem quanto ao índice de sucesso clínico radiográfico.
Colocar remédio dentro de raizes de dentes doentes é uma tradição desde os primórdios da civilização. Relatos históricos afirmam que foram encontrados traços de medicamentos em dentes de múmias no antigo Egito, provavelmente com o intuito de curar. Há 23 anos Herbert Schilder que recentemente faleceu na cidade de Boston disse: No futuro a endodontia será feita rotineiramente com o mínimo de dependência de medicação intracanal e sem procurar modificar com medicamentos as lesões endodônticas. Inadvertidamente, a princípio, intencionalmente, com o tempo, forame apical, canais radiculares, canais laterais e canais principais serão localizados e obturados totalmente. A existência de tais canais e a importância de obtura-los até o seu limite apical (forame apical-patência) deixarão de ser uma preocupação, pois serão obturados rotineiramente. Os historiadores da odontologia perguntarão por que houve tanta controvérsia sobre o assunto? Os defensores atuais da medicação intracanal principalmente os apologistas do Hidróxido de Cálcio poderão vir a ser os que mais ardentemente limpam, preparam e obturam o canal nas três dimensões. Provavelmente uma comunidade pequena de cientistas defenderão e reinvidicarão a autoria da idéia do tratamento em sessão única. A endodontia atual possui uma das maiores taxas de sucesso da odontologia, em torno de 90 a 99%, dependendo dos critérios usados, não importa se executada em sessão única, duas sessões ou sessões múltiplas, embora Brynolf tenha concluído em 1967 que a reparação histológica não ultrapassa 7% dos casos tratados. Estes dados foram confirmados por Seltzer em dezembro de 1999. Todavia merece respeito os dados obtidos por Tanomaro et al. em 2002 e Holland et al. em 2003. Os autores trabalhando em dentes de cães conseguiram melhores resultados histológicos em dentes com medicação intracanal com H.Cálcio, comparados com dentes tratados em sessão única. No passado objetivo da medicação intracanal era obter um teste microbiológico negativo antes da obturação do canal. Seltzer, Bender e Turkenkof, em 1963, obtiveram os mesmos resultados clínicos radiográficos obturando dentes com testes positivos e negativos. O trabalho foi contestado, a partir de 1970, porque foram realizados antes do aprimoramento de técnicas de cultura anaeróbia. Todavia, 24 anos depois, Matsumoto e colaboradores (1987) confirmaram os achados de Seltzer et al. de 1963, usando técnicas de colheita, transporte e cultura anaeróbias.
Bystrom e Sandqvist e Bystrom e colaboradores publicaram uma série de cinco trabalhos, 1981, 1983,1985, 1985 e 1987, onde sugeriram que deixando o canal vazio após o preparo químico mecânico ocorre o restabelecimento total da microbiota endodôntica num prazo de 2-4 dias ; daí a indicação da medicação intracanal com hidróxido de cálcio e contra-indicação do tratamento em sessão única. Houve um equívoco histórico de interpretação porque o tratamento em sessão única não deixa o canal vazio, deixa o canal preenchido com cimento e guta percha.
Em 2000, nós selecionamos 240 dentes com necrose e lesões perirradiculares . Fizemos a limpeza e modelagem e dividimos os dentes em dois grupos de 120 dentes cada : grupo A e grupo B. No grupo A os dentes foram obturados em sessão única. No grupo B foi colocado medicação intracanal com hidróxido de cálcio e obturado uma semana depois. Não houve diferença entre o grupo A e o grupo B nem quanto à dor pós- operatória 24-48-72 horas, nem quanto ao índice de sucesso em 4 anos de observação. Estes achados foram confirmados por Peters e Wessilink em trabalho publicado no International de Agosto de 2002.
Os princípios básicos do tratamento endodôntico são dois : 1. Domínio da anatomia 2. Controle da infecção. O tratamento endodôntico em sessão única em dentes com patologia periapical não é objetivo, é uma consequência. Uma consequência do domínio da anatomia através da habilidade individual do dentista e o conseqüente controle da infecção. Todo tratamento pode ser realizado em sessão única por razões biológicas, porém nem todo tratamento pode ser realizado em sessão única por motivos técnicos, incluindo dificultades anatômicas, tempo, habilidade profissional etc.
O bom senso deverá ser o juiz na escolha do número de sessões empregadas porque na verdade o êxito do tratamento endodôntico não depende da medicação intracanal, e sim da capacidade profissinal de controlar a infecção localizada no sistema de canais radiculares de forma a restar apenas infecção na região periapical onde as defesas do hospedeiro são competentes para combater os microrganismos e seus produtos. A região periapical possue um alto índice metabólico, irrigação sanguínea abundante e alta concentração de células e moléculas de defesa.
Considerando que o fórum adequado para o debate democrático de questões polêmicas são as universidades e os congressos, seria muito saudável que seus responsáveis e dirigentes convocassem os interessados para um amplo debate de questões polêmicas para maior esclarecimento e aprimoramento da odontologia.
Bloco de notas: O tratamento em sessão única não é, não deve ser praticado e nem ensinado nos cursos de graduação. O aluno que não tem condições de executar tratamento endodôntico em inúmeras sessões por falta de habilidade, não pode realizar o tratamento em sessão única. Por outro lado, existem vários profissionais de altíssimo nível técno-científico que realizam tratamentos em duas ou mais sessões com elevado índice de sucesso.
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A controvérsia sobre endodontia em sessão única em dentes com patologia periapical está concentrada na medicação intracanal. Estudos têm demonstrado que não há diferenças significantes entre tratamentos realizados em sessão única e em sessões múltiplas (duas ou mais sessões) com medicação intracanal com hidróxido de cálcio , nem quanto à dor pós- operatória nem quanto ao índice de sucesso clínico radiográfico.
Colocar remédio dentro de raizes de dentes doentes é uma tradição desde os primórdios da civilização. Relatos históricos afirmam que foram encontrados traços de medicamentos em dentes de múmias no antigo Egito, provavelmente com o intuito de curar. Há 23 anos Herbert Schilder que recentemente faleceu na cidade de Boston disse: No futuro a endodontia será feita rotineiramente com o mínimo de dependência de medicação intracanal e sem procurar modificar com medicamentos as lesões endodônticas. Inadvertidamente, a princípio, intencionalmente, com o tempo, forame apical, canais radiculares, canais laterais e canais principais serão localizados e obturados totalmente. A existência de tais canais e a importância de obtura-los até o seu limite apical (forame apical-patência) deixarão de ser uma preocupação, pois serão obturados rotineiramente. Os historiadores da odontologia perguntarão por que houve tanta controvérsia sobre o assunto? Os defensores atuais da medicação intracanal principalmente os apologistas do Hidróxido de Cálcio poderão vir a ser os que mais ardentemente limpam, preparam e obturam o canal nas três dimensões. Provavelmente uma comunidade pequena de cientistas defenderão e reinvidicarão a autoria da idéia do tratamento em sessão única. A endodontia atual possui uma das maiores taxas de sucesso da odontologia, em torno de 90 a 99%, dependendo dos critérios usados, não importa se executada em sessão única, duas sessões ou sessões múltiplas, embora Brynolf tenha concluído em 1967 que a reparação histológica não ultrapassa 7% dos casos tratados. Estes dados foram confirmados por Seltzer em dezembro de 1999. Todavia merece respeito os dados obtidos por Tanomaro et al. em 2002 e Holland et al. em 2003. Os autores trabalhando em dentes de cães conseguiram melhores resultados histológicos em dentes com medicação intracanal com H.Cálcio, comparados com dentes tratados em sessão única. No passado objetivo da medicação intracanal era obter um teste microbiológico negativo antes da obturação do canal. Seltzer, Bender e Turkenkof, em 1963, obtiveram os mesmos resultados clínicos radiográficos obturando dentes com testes positivos e negativos. O trabalho foi contestado, a partir de 1970, porque foram realizados antes do aprimoramento de técnicas de cultura anaeróbia. Todavia, 24 anos depois, Matsumoto e colaboradores (1987) confirmaram os achados de Seltzer et al. de 1963, usando técnicas de colheita, transporte e cultura anaeróbias.
Bystrom e Sandqvist e Bystrom e colaboradores publicaram uma série de cinco trabalhos, 1981, 1983,1985, 1985 e 1987, onde sugeriram que deixando o canal vazio após o preparo químico mecânico ocorre o restabelecimento total da microbiota endodôntica num prazo de 2-4 dias ; daí a indicação da medicação intracanal com hidróxido de cálcio e contra-indicação do tratamento em sessão única. Houve um equívoco histórico de interpretação porque o tratamento em sessão única não deixa o canal vazio, deixa o canal preenchido com cimento e guta percha.
Em 2000, nós selecionamos 240 dentes com necrose e lesões perirradiculares . Fizemos a limpeza e modelagem e dividimos os dentes em dois grupos de 120 dentes cada : grupo A e grupo B. No grupo A os dentes foram obturados em sessão única. No grupo B foi colocado medicação intracanal com hidróxido de cálcio e obturado uma semana depois. Não houve diferença entre o grupo A e o grupo B nem quanto à dor pós- operatória 24-48-72 horas, nem quanto ao índice de sucesso em 4 anos de observação. Estes achados foram confirmados por Peters e Wessilink em trabalho publicado no International de Agosto de 2002.
Os princípios básicos do tratamento endodôntico são dois : 1. Domínio da anatomia 2. Controle da infecção. O tratamento endodôntico em sessão única em dentes com patologia periapical não é objetivo, é uma consequência. Uma consequência do domínio da anatomia através da habilidade individual do dentista e o conseqüente controle da infecção. Todo tratamento pode ser realizado em sessão única por razões biológicas, porém nem todo tratamento pode ser realizado em sessão única por motivos técnicos, incluindo dificultades anatômicas, tempo, habilidade profissional etc.
O bom senso deverá ser o juiz na escolha do número de sessões empregadas porque na verdade o êxito do tratamento endodôntico não depende da medicação intracanal, e sim da capacidade profissinal de controlar a infecção localizada no sistema de canais radiculares de forma a restar apenas infecção na região periapical onde as defesas do hospedeiro são competentes para combater os microrganismos e seus produtos. A região periapical possue um alto índice metabólico, irrigação sanguínea abundante e alta concentração de células e moléculas de defesa.
Considerando que o fórum adequado para o debate democrático de questões polêmicas são as universidades e os congressos, seria muito saudável que seus responsáveis e dirigentes convocassem os interessados para um amplo debate de questões polêmicas para maior esclarecimento e aprimoramento da odontologia.
Bloco de notas: O tratamento em sessão única não é, não deve ser praticado e nem ensinado nos cursos de graduação. O aluno que não tem condições de executar tratamento endodôntico em inúmeras sessões por falta de habilidade, não pode realizar o tratamento em sessão única. Por outro lado, existem vários profissionais de altíssimo nível técno-científico que realizam tratamentos em duas ou mais sessões com elevado índice de sucesso.
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