quinta-feira, abril 03, 2008

PROF. LUIZ VALDRIGHI - FOP - UNICAMP

Caro Valdrighi

PERGUNTAS:

1. A medicação intracanal tem papel importante no sucesso do tratamento endodôntico de dentes com necrose e periodontite apical?

Falar da medicação intracanal, hoje, é muito diferente de 40 a 50 anos atrás, quando a medicação era considerada a essência do tratamento. Portanto supervalorizada, tendo em vista que o controle microbiológico poderia ser feito à custa da medicação, pela aplicação de anti-sépticos inespecíficos (compostos de cresóis e fenóis) ou então, de pastas poli-antibióticas de Grossman. Tudo muito empírico, sem que houvesse uma fundamentação científica que a justificasse. Criou-se um mito de que a medicação intracanal era imprescindível nos tratamentos de canais radiculares, levados a termo em múltiplas sessões.
Esta concepção ganhou respaldo com os testes de cultura microbiológica, quando academicamente não se admitia a conclusão do tratamento (obturação) sem que atendesse alguns requisitos, incluindo a obtenção da cultura negativa; lembrando que entre as sessões se mantinha uma medicação. Com isto, muitas e muitas sessões sem qualquer amparo científico, para validar sua importância clínica, nos resultados dos tratamentos.
A primeira luz surgiu, para mudar os rumos desta concepção, com a publicação do importante trabalho de Bender e col, em l964 (Culture or not Culture), quando apresentaram os resultados de avaliação radiográfica (proservação de mais de anos), de casuística de mais de mil casos em cada grupo de dentes com tratamentos concluídos com e sem cultura negativa, demonstrando que não havia diferença estatística no percentual de sucesso de ambos os grupos, portanto pondo em terra o valor clínico deste procedimento. Em outras palavras tanto faz como tanto fez, o teste microbiológico é inócuo.
Como isto contrariava a orientação acadêmica da época, demorou muito para que o dogma do teste fosse abandonado (mais de 10 anos): ainda assim, a orientação acadêmica mantinha a idéia de que, mesmo não fazendo teste, dever-se-ia aplicar o curativo de demora por mais uma ou duas vezes.



2. O "status" microbiológico do canal após completo PQM. Influi na reparação da lesão?

Quer queiram ou não os microbiologistas, bactérias só passam a ser importantes se o canal não for bem preparado (isto inclui modelagem, remoção dos substratos e umidade) e depois, efetivamente obturado, com a complementação do selamento coronário. Isto é, se os canais forem corretamente preparados e obturados, com complementação do selamento coronário, os meios de sobrevivência bacteriana são eliminados, não tendo portanto o que preocupar com as mesmas, tanto faz se em dentes com vitalidade, ou com necrose com e sem lesão. Os trabalhos de avaliações de tratamentos endodônticos (proservação em período acima de um ano) comprovam que quando os tratamentos são corretamente efetuados, o percentual de sucesso alcança o elevado percentual de 95% de sucesso. Não tem como contestar isto.

Por outro lado, a deficiência no preparo e na obturação, faz com que as bactérias (o pool delas e não uma especiezinha isolada) encontrem substrato, umidade, pH .., enfim, as condições para sobrevivência e multiplicação, no interior do canal, fora do alcance da defesa orgânica, vão perpetuar uma lesão pré-existente ou favorecer o aparecimento da lesão. Em outras palavras, é a mesma coisa como se os canais não fossem tratados. (Hession, l984).




3. A espessura da lima no final da instrumentação apical é importante na endodontia? Quanto mais ampla a instrumentação apical do canal, maior a desinfecção?


Nada muda. Evidentemente, com a patência apical, seguida de uma ampliação do forame apical (até a lima apical final) o processo de limpeza fica melhor nesse segmento do canal, abreviando e facilitando a ação "trabalho" da defesa orgânica. Isto aliado à instrumentação rotatória foram os grandes avanços técnicos da Endodontia contemporânea. Depois que esta prática seja estendida, o percentual de sucesso dos tratamentos endodônticos, certamente ultrapassará os 95% .


4. Na sua opinião, qual a real contribuição de estudos sobre técnicas moleculares ( PCR e outras) para identificação de bactérias para a clínica de endodotia?

Historicamente, os microbilogistas, para não dizer que atrapalharam, pouco contribuíram para o desenvolvimento da endodontia. Não é modificando este ou aquele método de identificação que vai mudar alguma coisa. Estas mudanças só vão facilitar as publicações, sem qualquer significado clínico.


Muitíssimo obrigado pela sua atenção.

Abraços,

Ruy.