Caros professores Celso e Eduardo, ontem durante curso na APCD Central, houve uma questão polêmica dentre várias outras. Realmente o uso de antibiótico passou a ser usado por períodos mais curtos, até a resolução dos sintomas clínicos? Foi sugerido doses mais altas por períodos curtos, em alguns casos, 2 a 3 dias. Por favor me esclareça o seguinte:
1. Houve mudanças significativas quanto à posologia ?
Prof. Eduardo: Atualmente, parece ser consensual entre os especialistas de que o uso de antibióticos no tratamento das infecções bacterianas agudas, como complemento dos procedimentos de descontaminação local, deve ser feito por meio de doses maiores e por tempo restrito.
Prof. Celso: a posologia é feita com base na farmacocinética e farmacodinâmica da droga, deve-se seguir a posologia indicada pelo fabricante.
2. Por que passou-se a usar períodos curtos ?
Prof. Eduardo: um dos conceitos mais errôneos é o de que “o tratamento com antibióticos requer um ciclo ou curso completo” (geralmente de 7 a 10 dias), sob o argumento de que “o tratamento prolongado elimina as bactérias resistentes”. Entretanto, isto é uma contradição, pois um agente antimicrobiano não pode afetar microrganismos resistentes a si próprio, pela própria definição de resistência microbiana. Ao contrário, o uso prolongado de antibióticos somente serve para selecionar estas espécies resistentes.
Prof. Celso:na literatura encontram-se diversos artigos muito
recentes da área médica, mostrando que o uso
prolongado em infecções como na pneumonia, tem o mesmo
efeito qdo utlizado em tempo menor (ao invés de 14d,
usa-se 7d). Tb há estudos mostrando que a resistência
bacteriana pode aumentar com o uso prolongado.
3. Ainda é válido continuar por alguns dias o uso de antibiótico, após a ausência de sintomas, como medida preventiva ?
Prof. Eduardo: Outra afirmação muito comum é que “a terapia antibiótica prolongada é necessária para evitar a reincidência das infecções, já que os microrganismos são suprimidos, mas não eliminados”. Ora, é sabido que as infecções bacterianas bucais dificilmente reincidem, particularmente se a fonte da infecção for erradicada, o que se consegue na clínica odontológica por meio da descontaminação local (esvaziamento progressivo do sistema de canais radiculares, drenagem de abscessos, etc.).
Prof. Celso: na minha opinião sim, mas não deverá ultrapassar mais que 24h.
4. A pergunta 2 refere-se a casos de dentes com infecção e lesão periapical e não a tratamento profilático com indicação médica.
Prof. Eduardo: com base nestes conceitos e no fato de que as infecções bucais agudas têm uma evolução rápida e uma duração relativamente curta, pode-se dizer que, uma vez erradicada a fonte da infecção, a duração ideal da terapia antibiótica deve ser a menor possível, e que o único parâmetro prático para se determinar o tempo de tratamento é a remissão dos sintomas da infecção, devidamente avaliados pelo clínico. Daí a importância da monitorização do paciente pelo profissional, após 24, 48 ou 72h, de acordo com o caso.
Prof. Celso: veja bem, em dentes com lesão periapical crônica, muitos endodontistas não utilizam nenhum antibiótico (salvo pacientes com alterações sistêmicas), em casos
com abcessos agudos utilizam antibiótico por 5 dias com dose de ataque (2 comprimidos).
Prof. Eduardo: com base nestes conceitos e no fato de que as infecções bucais agudas têm uma evolução rápida e uma duração relativamente curta, pode-se dizer que, uma vez erradicada a fonte da infecção, a duração ideal da terapia antibiótica deve ser a menor possível, e que o único parâmetro prático para se determinar o tempo de tratamento é a remissão dos sintomas da infecção, devidamente avaliados pelo clínico. Daí a importância da monitorização do paciente pelo profissional, após 24, 48 ou 72h, de acordo com o caso.
Portanto, sou da opinião de que a terapia com antibiótico(s) deve ser interrompida quando, por meio de evidências clínicas, ficar demonstrado que as defesas imunológicas do hospedeiro reassumiram o controle da infecção. Isto pode se dar após um período de 2, 3, 4, 5 ou até mesmo nos “clássicos” 7 dias. Com esta conduta, o cirurgião dentista estará contribuindo para uma menor incidência de efeitos adversos dos antibióticos, reduzindo o custo do tratamento e, talvez, o mais importante, dificultando a seleção de bactérias resistentes. Espero ter sido objetivo nas minhas respostas.
Prof. Celso: estou de acordo, sugiro que prescreva antibióticos por 72h e analise o quadro, sendo satisfatório continue somente por mais 24h por segurança (total=4dias), caso ainda hajasintomas, preescreva por mais 72h (total=6dias) . Lembrar: A determinação de no mínimo 7 ou 10 dias na minha opinião , é empírica, sendo assim voce pode reduzir o tempo de uso acompanhando a remissão dos sintomas e apoiado em sua
experiência clínica.
Prof. Eduardo Dias de Andrade: Titular de Farmacologia, Anestesiologia e Terapêutica da Fac. de Odontologia da Unicamp.É autor do livro Terapêutica Medicamentosa em Odontologia e co-autor do livro Emergências Médicas em Odontologia - Ed. Artes Médicas.
Professor Celso Queirós: Professor de Farmacologia da Faculdade de Odontologia da Universidade Ibirapuera – São Paulo .